Dor de dente, será?

Muitas vezes, o dentista é chamado para realizar o atendimento no leito hospitalar ou o paciente chega no consultório relatando uma dor de dente. Uma dor espontânea, que vai e volta, fina e nem sempre conseguem identificar o local exato.

Após o exame clínico, aquele exame em que o dentista examina os dentes e toda a cavidade de boca e face, não se observa nada – tudo no aspecto de normalidade. Não, não é gengivite, gengiva inflamada, cárie ou qualquer suspeita de alteração da fisiologia e estrutura dentária. Então, o que acontece? E aí, a importância de um profissional qualificado no atendimento à pacientes oncológicos e a comunicação multiprofissional, para saber o que pode ser esta dor de dente.

O tratamento oncológico, com sua evolução, trouxe melhorias de sobrevida às crianças com câncer, devido à intensificação da dosagem e à combinação de drogas quimioterápicas. Nos últimos 50 anos, a taxa de sobrevida geral do câncer infantil aumentou de 10% para quase 90%. A quimioterapia atua combatendo as células, sejam elas normais ou as que apresentam alguma alteração, sem diferenciá-las e, assim, podemos explicar a causa de alguns efeitos colaterais bastantes conhecidos como a queda de cabelo. Esses efeitos colaterais variam em intensidade e duração para cada paciente e, em alguns casos, não apresentam sintomas.

Naqueles pacientes que relatam dor de dente durante o tratamento, faz-se necessário realizar uma consulta minuciosa que constitui: da anamnese – história médica e odontológica do paciente, ao exame clínico – observar se há alguma alteração na estrutura dentária, que esteja causando a dor. Sempre considerando que agentes quimioterápicos estão sendo ministrados, pois os agentes alcaloides, como vincristina e vimblastina, podem desenvolver dor neuropática, em especial na região mandibular.

A dor neuropática é o acometimento de neurônios que formam nervos periféricos ou raízes nervosas. Há evidências de que os nervos podem ficar sensibilizados, devido as alterações na concentração de sal no líquido que os rodeia ou porque os canais que utilizam esses sais para ativar os impulsos nervosos perdem sua funcionalidade. Estas e outras alterações podem danificar a estrutura dos nervos. Na face, encontra-se o nervo trigêmeo, que compreende o nervo oftálmico, o nervo maxilar e o nervo mandibular, e é o mais afetado em relação a dor neuropática orofacial.

Os pacientes que fazem uso de quimioterápicos alcaloides podem sentir dor de dente, ou melhor, uma dor relatada como dor de dente, porém, não é dor dente e sim uma dor neuropática. Essa dor, para ser tratada, tem que ter uma abordagem multiprofissional e multimodal, ou seja, multiprofissional – abordagem médica, psicológica e cirurgião dentista, para diminuir o impacto desta dor, em vários aspectos da vida do paciente, e multimodal – várias modalidades terapêuticas, farmacológicas e não farmacológicas são utilizadas para controlar a dor.

A laserterapia, laser de baixa intensidade, é uma abordagem não farmacológica, atua agindo com as proteínas fotossensíveis, presentes em diferentes áreas do sistema nervoso, atenuando a dor, reparando o tecido ósseo, recuperando o tecido nervoso e afetando a percepção da dor em nervos sensíveis. A laserterapia é realizada pelo cirurgião dentista e está incluso no protocolo de atendimentos odontológicos na Casa de Apoio a Criança com Câncer Durval Paiva.

Por Karina Sousa - Dentista Casa Durval Paiva - CRO 3145/RN

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