Aprender no hospital é mais divertindo brincando!

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como "um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades". Nesse sentido, passa-se a observar o ser humano em sua integralidade, considerando os aspectos biopsicossociais.

No processo de evolução humana saudável, andar, falar, se comunicar, brincar, estudar, aprender a ler, a escrever, a transição de um ciclo de vida para outro, entre outros, são modelos de ações que os indivíduos buscam seguir e alcançar em um determinado tempo biológico previsível a uma determinada faixa de idade.

Na infância, esses modelos são mais evidenciados. Sendo a brincadeira uma atividade social aprendida pelas crianças, através do contato com seu meio externo e com o outro, torna-se entre tantos modelos, uma ação de extrema importância para o desenvolvimento sensório motor e cognitivo nesta fase da vida.

Embora o brincar esteja diretamente correlacionado com a infância, quando o desenvolvimento comum do indivíduo é impactado por um evento não esperado, tal qual é o adoecimento, o processo evolutivo tem uma quebra sequencial que infere em todos os aspectos de vida inerentes ao ser.

Nesta perspectiva, observando os processos multifatoriais imbricados ao diagnóstico médico e os mais variados aspectos que envolvem a promoção do estado de bem-estar físico e psicológico da criança, em fase de adoecimento, destaca-se a importância de promover intervenções educativas no espaço hospitalar, sobretudo a oferta de brincadeiras e jogos lúdicos através de uma proposição metodológica ludo pedagógica.

Portanto, quem disse que hospital não é lugar de aprender e brincar? O serviço de atendimento educacional hospitalar é uma realidade evidenciada em várias unidades hospitalares no Brasil e no mundo. A proposta pedagógica/educacional soma-se à prática humanescente e terapêutica, possuindo objetivos planejados e executados conforme metodologia de ensino adotada, para que a criança continue aprendendo e se desenvolvendo embora imersa a um evento estressor, o adoecimento.

No contexto da oncologia pediátrica, por exemplo, a incorporação do processo educativo ao tratamento médico, traz resultados expressivos às respostas dadas pelos pacientes.

Exemplo prático de aplicação da ludo pedagogia pode ser evidenciado no desenvolvimento de atividades educativas nas classes hospitalar e domiciliar da Casa de Apoio à Criança com Câncer Durval Paiva na cidade de Natal/RN.

Com uma rotina de atividades planejadas e diversificadas, a ludo pedagogia é incorporada aos projetos pedagógicos interdisciplinares e também às aulas de musicalização, arte terapia, passeio terapia, informática, desenho e teatro, executadas nas salas de aulas, bem como, no ambulatório e leitos do hospital.

Através dessa metodologia podemos estabelecer vínculos afetivos da criança, tanto com a equipe, quanto com o próprio espaço de ensino. Com a brincadeira, a criança revela ao universo exterior o que se passa em seu interior. Suas angústias, tristezas, alegrias, desejos presentes e futuros são externalizados pelo contato com o brinquedo e pela troca com o outro.

Na medida em que atividades como estas contemplam as necessidades que permeiam a infância, tais quais: brincar, estudar, interagir, socializar, se relacionar, aprender, criar, fazer de conta, etc também asseguram a manutenção do processo de aprendizagem escolar, e ainda possibilitam ao educando a compreensão do seu processo de adoecimento, as especificidades do próprio tratamento, reelaboração da sua condição de sujeito para agente e não somente reagente, oportunizando a ressignificação de experiências pessoais, familiares, religiosas, entre outras.

Assim, pode-se inferir que, embora o estado de adoecimento e a vivência da rotina hospitalar seja um evento impactante e marcante para toda a vida, oportunizar que este indivíduo continue se desenvolvendo, através de atividades que busquem na essência o que é ser criança, favorece o pleno desenvolvimento do ser humano.

Gabriella Pereira do Nascimento

Coordenadora pedagógica da Casa Durval Paiva

Por Gabriella Pereira do Nascimento

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