Os desafios do trabalho com pacientes oncológicos

A Casa de Apoio à Criança com Câncer Durval Paiva atende à crianças e adolescentes com câncer e doenças hematológicas, com a missão de acolher pacientes e seus familiares visando oferecer um atendimento humanizado e de qualidade. Desde sua fundação já atendeu a mais de 1589 famílias, atualmente temos 581 pacientes ativos e em tratamento. Destes, 237 crianças e adolescentes com câncer e 344 com doenças hematológicas, das mais diversas, a saber: anemia falciforme, hemofilia, talassemia, dentre outras.

Quando diagnosticados, os pacientes são encaminhados pelo hospital para a casa de apoio. Mensalmente, recebemos uma média de 5 a 7 novos pacientes, que chegam à instituição com diversas demandas, dos mais variados lugares, capital e interior do RN. No momento do cadastro, já apreendemos algumas situações que no decorrer do acompanhamento teremos que intervir com o suporte da equipe multidisciplinar, pois trata-se de um trabalho conjunto.

No decorrer do acompanhamento, nos deparamos com diversos desafios que englobam as particularidades de cada paciente e suas famílias, bem como com as nuances do próprio tratamento, que também nos afeta diretamente, afinal, também compartilhamos com as famílias das conquistas e derrotas. Não é fácil lidar com as inúmeras situações de negação de direitos, e na dificuldade de acesso a coisas consideradas básicas, como: moradia, alimentação, medicação, transporte, dentre outros. Diante de tais demandas, é necessário um trabalho de articulação e encaminhamento para que as famílias possam ter acesso ao que lhes é de direito.

Entretanto, é válido salientarmos que também enfrentamos desafios no âmbito da singularidade de cada paciente, pois enfrentar o câncer é algo desafiador, o tratamento é longo, sofrido, com altos e baixos, e muitas vezes os pacientes “desistem”/ “desanimam”, e nesse momento temos que saber lidar com tal particularidade, respeitando, mas também enxergando nossas limitações. Entendendo a vontade do paciente, mas também buscando caminhos e alternativas que os ajudem a superar tais momentos. Muitas vezes a visita no quarto, a conversa no corredor, são estratégias utilizadas.

E quando a doença volta com tudo? A recidiva, também nos afeta, não é fácil ver o paciente bem, de volta a rotina e as atividades e, de repente, ele recair e ter que enfrentar novamente as longas internações, as mudanças físicas e emocionais que advêm com o tratamento. É nesse momento que afirmamos o quanto é desafiador enfrentar o câncer, é uma luta diária e constante, que nos reserva surpresas boas e ruins, pois, a finitude também faz parte desse processo. Esse é um dos nossos maiores desafios, ter que lidar com a partida de alguns pacientes, muitos depois de um período de desgaste e sofrimento, e outros de uma forma tão repentina, mas, sempre sofrida em todos os casos.

Após o óbito, atender a família e realizar a visita domiciliar é sempre desafiador, confortar e acolher a família, especialmente, nesse período é doloroso para nós enquanto profissionais, pois acompanhamos todo o processo de tratamento e também sentimos a partida do paciente, mas, é nesse momento que reunimos forças para acolher e, acima de tudo, oferecer um atendimento humanizado e de qualidade para as famílias.

Muitas vezes quando as pessoas perguntam – “como vocês conseguem? ” Sempre pensamos que o amor, compromisso e respeito ético para com nossos pacientes nos fortalecem para lutarmos todos os dias, e nos dão força para enfrentarmos esses e muitos desafios.

Por Keillha Israely - Assistente Social CRESS/RN 3592

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