Adolescente com câncer x qualidade de vida

A cada ano, surgem novos casos de adolescentes com câncer e, juntamente ao diagnóstico, felizmente também surgem os avanços da medicina, que têm permitido que a expectativa de vida deles seja maior. A adolescência é uma fase que se inicia na puberdade e vai até a idade adulta, com características peculiares devido às mudanças ocorridas nos mais variados aspectos, sejam eles físicos, sexuais, cognitivos, emocionais ou sociais.

É o momento de formação da identidade dos jovens, que apresentam algumas características que interferem diretamente no processo de construção do ser. Trata-se de uma fase em que fazem parte as emoções, a exploração de si e do mundo, os questionamentos, a busca pela identidade, os momentos de insegurança, as alterações na autoestima, a preocupação com a aparência física, a imagem corporal, dentre outras.

Dessa forma, é imprescindível estar atento a essas questões, visto que o tratamento oncológico exige longos períodos de internação, com procedimentos invasivos e dolorosos tanto físico quanto emocionalmente. Quando falamos de contexto hospitalar, o paciente vivencia uma ruptura no seu cotidiano, o que pode ocasionar também um sofrimento psíquico.

O período de hospitalização por si só gera alguns sentimentos como estresse, angústia e ansiedade, tanto para o paciente quanto para sua família, e esse processo acontece por causa do medo do desconhecido, dúvidas que surgem em relação à doença, incômodos com o fato de passar a depender fisicamente de outras pessoas, no que diz respeito à alimentação e autocuidado, assim como a perda da identidade e da autonomia, alteração na imagem corporal e no convívio com os pares.

A atuação do terapeuta ocupacional no contexto hospitalar propicia a reabilitação da saúde e favorece a manutenção da qualidade de vida durante o período de internação. Com isso, promove o aumento da autoestima e instiga os pacientes e acompanhantes a continuarem sendo os protagonistas de suas histórias. A terapia ocupacional facilita a organização das atividades do cotidiano, independente da doença ou hospitalização.

Semanalmente, acompanhamos no hospital os pacientes acolhidos pela Casa Durval Paiva, objetivando estabelecer vínculo terapêutico, auxiliar no enfrentamento da hospitalização e adoecimento, favorecer maior qualidade, autonomia e independência das Atividades de Vida Diária (AVD), explorar a participação social, o lazer, a educação, o trabalho, despertando-os para novas habilidades e capacidades, além de orientar os familiares quanto à realização de exames, procedimentos médicos, acolhendo-os conforme a necessidade.

Fica evidente ser um grande desafio lidar com esse público, pois encontra-se resistente a qualquer estímulo e, por vezes, a interação passa a não existir. Porém, essa dificuldade fica mais evidente no ambiente hospitalar. Na instituição, a relação torna-se mais natural, contudo, é preciso reconhecer os limites estabelecidos e respeitar o espaço do outro, até para não criar uma barreira entre as partes.

É necessário compreender que esses comportamentos fazem parte das características da própria adolescência. Dessa forma, pelo fato da terapia ocupacional não se restringir somente aos aspectos referentes à hospitalização, mas, sim, aos impactos da doença no cotidiano desses adolescentes, os estímulos são contínuos, a fim de alcançarem, mesmo no período de hospitalização, a qualidade de que precisam.

Em suma, o objetivo é minimizar tudo o que envolve essa fase, buscando por atividades funcionais e significativas que auxiliem no enfrentamento do tratamento, para que eles tenham a oportunidade de um retorno saudável à vida normal, após inúmeras intervenções, facilitando o resgate dos papéis ocupacionais do adolescente, encorajando-o ao enfrentamento da doença, para que continue escrevendo cada linha de sua vida.

Por Lady Kelly Farias da Silva Terapeuta Ocupacional - Casa Durval Paiva Crefito:14295-TO

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