Lidando com a família: um olhar diferenciado para os irmãos da criança com câncer - 2011

 

O diagnóstico de câncer infantil traz sofrimento para a criança e toda sua família, que tem suas vidas completamente modificadas. Durante o tratamento, a criança se depara com situações nunca antes vividas como: quimioterapia e seus efeitos colaterais (enjôo, queda do cabelo, entre outros), exames invasivos e hospitalização, os quais exigem atenção integral dos pais e demandam presença constante de pelo menos um deles. Diante dessa situação, toda preocupação da família acaba se voltando para o filho que está doente e quem acaba sentindo bastante essa mudança na rotina doméstica é o irmão da criança com câncer.

Os irmãos que estão bem de saúde acabam se sentindo sem atenção, pois voltados para as necessidades do filho doente os pais não têm tempo e nem energia suficiente para dedicar aos outros filhos. Além disso, muitos pais pensando em poupar os filhos não conversam com eles sobre a doença do irmão, conseqüentemente, sem informações e percebendo todo o estresse, essas crianças costumam apresentar mudanças de comportamento e tecer fantasias de que são culpados de tal situação e que também vão adoecer. Os irmãos saudáveis também podem manifestar raiva, carência, ciúmes, ansiedade e sentimentos contraditórios como raiva e dó do irmão doente.

É comum alguns irmãos apresentarem sintomas como dor de cabeça, dor de barriga para chamar a atenção dos pais. A mudança de comportamento também é sentida na escola, provocando queda do rendimento escolar, indisciplina e isolamento social.

Essa preocupação com os irmãos da criança com câncer foi percebida pelo setor de psicologia da Casa de Apoio Durval Paiva através dos atendimentos realizados com os acompanhantes das crianças. Foi verificada a apreensão desses pais com a mudança de comportamento, com o ciúme e principalmente com o desejo de também ficar doente para ter o cuidado dos pais e a atenção demandada por todos ao irmão doente. A partir disso, em 2009 foi criado na Instituição um grupo lúdico voltado para os irmãos dos pacientes. O trabalho desenvolvido no grupo tinha como objetivo possibilitar ao irmão da criança com câncer um espaço para a elaboração da doença e das mudanças que essa traz ao convívio familiar, permitindo que reflitam e compartilhem suas dúvidas durante toda a fase de tratamento de seu irmão.

O projeto ao funcionar como continente de angústias dos seus participantes, possibilita o contato com as ansiedades, medos e conflitos internos, assim como trabalha possíveis sentimentos de culpa, proporcionando uma prática terapeutizante capaz de fazê-los se sentirem compreendidos e acolhidos.

Não menos importante que a atenção dada à criança com câncer durante o seu tratamento, é permitir que seus irmãos tenham um atendimento psicológico de apoio e esclarecimento, para que possam expressar suas dúvidas e preocupações relacionadas com o irmão doente.

De maneira geral, é preciso que os pais e responsáveis fiquem atentos a essas questões e possam tentar amenizar as mudanças na rotina familiar. É importante que não deixem de atender as necessidades dos filhos saudáveis, reservando para estes um momento de lazer e atenção. Entendemos que a carga e a dedicação que o tratamento do câncer infantil requer e o estresse causado por tal situação muitas vezes esgotam os pais, mas nesse momento o que importa é a qualidade do tempo dedicado aos outros filhos e não a quantidade.

Por Juliana dos Santos Fernandes Barbalho

Artigos Relacionados