Alfabetização no hospital: prática educativa com responsabilidade social

Tratar sobre alfabetização é um tema controverso, principalmente nas últimas décadas; sempre que uma discussão a esse respeito é aberta, novas visões sobre a perspectiva do ato de alfabetizar surgem, pois é preciso convir que esse processo é tão mutável quanto o contexto que ele está sendo desenvolvido.

A escola é, por excelência, o espaço oficialmente destinado a possibilitar o desencadeamento desse processo nos educandos. Desencadear e aperfeiçoar, se pensarmos no longo percurso que o educando tem quando se trata de escolarização, e, especialmente, se unificarmos a alfabetização ao letramento, pois assim estendemos tal processo por toda a vida escolar do aluno, à medida que novos desafios são propostos.

A descoberta da função social da escrita pelo educando é fator impreterível para que este busque ser de fato um leitor e um escritor, pois passa a entender o real sentido que a obtenção dessas habilidades traz para sua vida.

Compreendo que as práticas escolares devem transcender a estrutura física da escola, pois esta é uma instituição social. Torna-se de inegável importância à ruptura das barreiras atitudinais e sociais para garantir que os estudantes, mesmo não dispondo dos meios comuns de acesso a escolarização, deem continuidade a esta.

Nesta perspectiva, casas de apoio e hospitais são espaços em que a alfabetização pode e deve ser promovida. Embora a princípio pareça um local improvável para tal dinâmica, vale ressaltar que nos últimos anos, o serviço de atendimento educacional hospitalar e domiciliar tem ganhado cada vez mais espaço e significado para crianças e adolescentes em tratamento médico. Embora esta práxis pedagógica seja diretamente relacionada em seus documentos oficiais na educação especial, não podemos deixar de pontuar que a mesma acontece também em espaços não formais de educação.

É nessa perspectiva que a educação acontece, por exemplo, na Casa Durval Paiva e por isso remete-se a necessidade de assegurar o ensino básico escolar às crianças e adolescentes que, devido ao tratamento médico oncológico ou hematológico não podem frequentar a escola regular, mas também na busca por essa seguridade, a instituição trabalha de forma a potencializar o ensino com um trabalho essencialmente lúdico, interdisciplinar e cultural, a fim de tornar prazerosa a aquisição de conhecimentos.

Através da proposição deste serviço é possível que os pacientes deem continuidade ao processo de escolarização. Com isso, por muitas vezes a sala de aula do hospital é a primeira vivência escolar ou até mesmo a oportunidade de retomar seu processo.

Assim, mesmo que o estudante esteja impossibilitado de frequentar a escola, é através das classes hospitalares e domiciliares que se perpetua a responsabilidade social com a formação dos indivíduos que precede a essência escolar. A alfabetização deve ser a principal aliada nessa luta educacional, pois esta permite ao sujeito uma liberdade de pensamento e expressão, fazendo com que exercite sua capacidade mental e aumente sua habilidade cognitiva. Nesse sentido, não deve ser apenas um fim, mas o meio pelo qual a educação alcança seus objetivos.

Gabriella Pereira do Nascimento

Coordenadora Pedagógica - Casa Durval Paiva

 

Por Gabriella Pereira do Nascimento

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